sábado, 16 de junho de 2018

Escrito em um sábado qualquer.


 Eu não sei o momento em que a escrita se tornou parte de mim, o que eu sei, é que reler dores antigas é como resgatar memórias do lugar mais íntimo da alma. A cada parágrafo de um texto antigo é como adentrar cada vez mais nas profundezas de um oceano; cheio de mistérios, beleza e armadilhas.
 Não me recordo da primeira vez que escrevi o que estava sentindo, e pra ser sincera não é como se fosse um exercício de autoconhecimento que me ajudasse a lidar com as falhas da vida. É apenas uma maneira desesperada de colocar para fora o que as lágrimas no escuro do quarto não foram suficientes.
 Se fosse necessário me descrever em uma palavra, sem sombra de dúvidas seria melancolia. Trago comigo o peso da saudade de grandes e pequenos momentos, a nostalgia da infância, as dores do mundo, o sofrimento causado pela angustia da antecipação, as perdas e os ganhos que deixaram saudades, os sonhos deixados para trás. Tudo me afeta, tudo me afeta muito.
 Tive o coração partido mais vezes do que sou capaz de contar, a mesma pessoa que me deixou aos cacos tantas vezes era a pessoa que reconstituía todos os pedaços depois, fui obrigada a juntar os caquinhos e me recompor mais vezes do que gosto de lembrar. Dessa vez não foi diferente, mais uma grande decepção, com o plus de um peso a mais na alma. Cansaço talvez seja a palavra. Quantas vezes um coração pode despedaçar e continuar batendo?
 Receio estar sendo ingrata pelas coisas da vida, quando sei que tenho muito e amo o que tenho. Amo os amigos que cultivei, as oportunidades que me foram presenteadas, sou grata por ter um emprego agradável, apesar de não me sentir suficientemente boa para fazer o que faço. Sou grata por de meses em meses poder lavar a alma nas ondas do mar e sentir a esperança que só uma brisa morna pode causar. Quando estou descalça sentindo o vento que sopra à beira-mar eu sinto que sou capaz de qualquer coisa, quando retorno à selva de pedra é como essa sensação evaporasse e se misturasse com o cinza do céu de São Paulo.
 Eu não quero deixar meus sonhos para trás, mas como ignorar o fato de que os anos estão passando e eu não fui capaz de realizar quase nenhum? Falando em realizações, dias atrás fui no show da minha banda preferida; quando eu tinha 12 anos ver o Simple Plan de perto era sem dúvidas o que eu mais almejava na vida, dez anos depois eu consegui realizar, graças ao fruto do meu próprio trabalho comprar um ingresso tão caro não foi difícil, difícil foi me enxergar aos doze anos de novo naquele show, só que dessa vez com problemas concretos, com perdas reais, boletos esperando para serem pagos, contas chegando pela caixa do correio, amizades antigas se desfazendo como pó e laços sendo cortados por pura maldade do tempo.
 Eu não sei onde quero chegar com essas palavras, apenas precisava exorcizar essa tristeza, e quando vomito dor, surgem palavras. Não quero fazer planos para o blog, mas entrar aqui depois de meses e encontrar comentários pendentes me faz sentir que eu não deveria deixar isso aqui no abandono como tenho feito nos últimos meses. 
 Não vou me desculpar por sentir demais, faz parte de mim. Apenas quero aprender a lidar com toda essa intensidade sem parecer que estou me perdendo de mim mesma a cada dia, sem me sentir desconectada. Espero que os próximos dias sejam mais fáceis. Seja como for, eu apenas continuo.

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